terça-feira, janeiro 03, 2017

A IGREJA DENTRO DA LEI - Legitimidade das Doações do Fiéis

Por Adiel Teófilo.

Requisitos legais de validade das doações dos fiéis e os vícios que podem causar a anulação dessas doações.

É de conhecimento geral que as igrejas evangélicas costumeiramente pedem aos seus fiéis que contribuam com dízimos e ofertas, além de outras formas de doação. O principal argumento que se utilizam para justificar esses pedidos é a necessidade de manter o funcionamento das atividades regulares da igreja, custeando as despesas de manutenção, limpeza e conservação, bem como a remuneração dos seus líderes e de funcionários contratados, dentre vários outros encargos eclesiásticos.

Não obstante ser muito comum essa prática, a reflexão sobre a legitimidade dessas doações conduz inevitavelmente a alguns questionamentos, tais como:será que todas as doações efetuadas pelos fiéis são juridicamente válidas? As igrejas podem empregar quaisquer meios para pedir doações? As entidades religiosas podem se utilizar livremente dos bens e valores doados para qualquer finalidade, inclusive para fins diferentes daquele que foi apresentado quando se pediu os dízimos e as ofertas? Essas indagações serão respondidas mediante uma abordagem eminentemente jurídica, e não teológica, pois o presente estudo enfoca o cumprimento da lei por parte das igrejas evangélicas.
  
Desse modo, importante considerar que as ofertas, dízimos e demais contribuições, sejam em dinheiro, bens móveis ou imóveis, que os fiéis doam para as igrejas, caracterizam-se juridicamente como contrato de doação. Essa espécie contratual está conceituada no art.538, do Código Civil - Lei nº 10.406, de 10/01/2002, que assim preconiza: Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.”. Ressalta-se que todos os artigos doravante mencionados são do Código Civil de 2002.

Diante disso, essa relação contratual no âmbito das igrejas precisa ser analisada sob dois ângulos diferentes: de um lado, a conduta da entidade religiosa que pede e aplica as doações, e, de outro, a condição da pessoa que faz a doação e a natureza dos seus bens e valores que serão doados. É bem verdade que sem as duas partes, doador e donatário (pessoa que recebe a doação), o processo não se completa, porém há aspectos relevantes que precisam ser considerados separadamente, visando compreender melhor a regularidade das doações destinadas às igrejas.

Iniciemos pela condição do doador. Indaga-se: toda pessoa pode doar o que bem quiser? A resposta mais comum é sim. Dizem que a pessoa pode doar tudo, desde que esteja doando aquilo que lhe pertence. No entanto, do ponto de vista legal, para que a doação tenha validade como negócio jurídico é necessário que atenda aos requisitos previstos em leiO primeiro desses requisitos é a capacidade civil, prevista no art. 104, inciso I. Significa dizer que a pessoa do doador deve ter pelo menos 18 anos completos, quando então fica habilitada para a prática de todos os atos da vida civil, conforme art. 5º, podendo figurar normalmente como doador dos seus bens.

Surge então a seguinte pergunta: como ficam as ofertas em dinheiro entregues nas igrejas por crianças, adolescentes e jovens menores de 18 anos? A resposta requer a análise da capacidade civil do doador. Vejamos. Os menores de 16 anos são considerados absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, de acordo com o art. 3º. Qualquer negócio jurídico por eles eventualmente celebrado é considerado nulo, de nenhuma validade, consoante art. 166, inc. I. Logo, não podem agir sozinhos como doadores. Precisam da figura do representante para atuar em nome deles.


Quanto aos maiores de 16 e menores de 18 anos, ainda não emancipados, são considerados relativamente incapazes no tocante a certos atos da vida civil ou à maneira de exercer esses atos, segundo regra do art. 4º, inc. I. O negócio por eles praticado é anulável, pode ser anulado, conforme art. 171, inc. I. Isto é, o negócio permanece válido a partir de sua celebração, contudo pode ser anulado em razão da falta da capacidade civil plena. Por isso, não podem igualmente atuar sozinhos como doadores. Devem ser assistidos por alguém que seja civilmente capaz.

A fim de proteger o interesse dos menores, o art. 1.630 estabelece que os filhos estão sujeitos ao poder familiar exercido pelos pais enquanto menores de 18 anos de idade. Por essa razão, o art. 1.534, inc. VII, confere aos pais plenos poderes, tanto para representar os filhos menores 16 anos, quanto para assistir os maiores de 16 e menores de 18 anos. Isso, em todos os atos da vida civil que se fizerem necessários, a fim de suprir o consentimento que esses menores não podem validamente expressar na celebração de qualquer contrato.

Aplicando esses conceitos ao cotidiano das igrejas, podemos constatar o seguinte. Os pais ou responsáveis, via de regra, presenciam as liturgias nas igrejas e têm não apenas o conhecimento, mas também manifestam o consentimento, ainda que de forma tácita, quanto às doações efetuadas por seus filhos menores. Não raras vezes, os próprios pais lhes fornecem esses recursos financeiros, ensinando-os na prática da liberalidade, generosidade e amor ao próximo. Assim sendo, inevitável é concluir que as pequenas ofertas e contribuições em dinheiro, apresentadas nas igrejas por crianças e adolescentes, são doações juridicamente válidas. O cuidado que se deve ter é quando a doação é notoriamente de grande valor e o menor não se faz acompanhar do seu representante ou assistente legal.

Ainda sob o ângulo do doador está a apreciação referente à natureza dos bens e valores que são doados. E aqui entra o segundo requisito para que o negócio jurídico seja realmente válido: o objeto da doação deve ser lícito, possível, determinado ou determinável, conforme art. 104, inc. II. O ato negocial que não cumprir esse requisito será consequentemente nulo, sem validade jurídica, consoante art. 166, inc. II. Assim sendo, objeto lícito é aquele que está de acordo com a lei, a moral e os bons costumes. Decorre disso que o bem ou valor a ser doado não pode ser de origem ilícita, a exemplo de dinheiro proveniente de furto, roubo ou tráfico de drogas. Obviamente que não se questiona a origem das pequenas importâncias em dinheiro ofertadas nas igrejas, entretanto não se pode aceitar ofertas vultosas sem questionar sua procedência, sob pena de estar concorrer para a prática de crime.

No que concerne ao objeto ser possível, trata-se daquele que é realizável, praticável, pois não se pode doar aquilo que é impossível de se transferir para o patrimônio de outra pessoa. Exemplo disso é doar um terreno no céu. Objeto determinado é aquele que pode ser estipulado, especificado, pelo gênero, quantidade e qualidade, como a doação de certo veículo. Determinável é o objeto incerto, descrito apenas por elementos mínimos quanto ao gênero e quantidade, para individualização no futuro, como doar parte de uma safra de cereais sem saber da qualidade do grão.

Além desses requisitos referentes ao objeto da doação, existem normas que limitam o volume total de bens ou valores a serem doados. É o caso do art. 548, que considera nula a doação de todos os bens do doador, sem que reserve para si uma parte de bens ou renda que sejam suficientes para a sua própria subsistência. Por isso não terá validade a doação integral de salário ou aposentadoria se o doador depender disso para sobreviver, podendo ser exigida a restituição dos valores. 

Outra limitação é a do art. 2.007, que estabelece a possibilidade de reduzir as doações quando constatar que o doador se excedeu quanto aos bens que realmente poderia dispor. Esse preceito tem por finalidade proteger inclusive o direito dos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge), pois a eles pertence de pleno direito a metade dos bens da herança, conforme preceituam os art. 1.845 e 1.846. Nota-se, em face dessas normas legais, que o doador não pode simplesmente doar tudo o que possui, atitude que não deve ser aceita nem incentivada pelas igrejas por ser contrária à lei.

O terceiro requisito para a doação ter validade como negócio jurídico é que obedeça a forma que a lei prescreve ou a forma que a lei não proíbe para a sua realização, segundo o art. 104, inc. III. O art. 541 determina que a doação será feita por meio de escritura pública, como é o caso dos imóveis, ou instrumento particular, no caso de bens móveis. O Parágrafo único do art. 541 assegura que a doação verbal será válida, quando se tratar de bens móveis de pequeno valor e o doador entregar de imediato o bem doado para o donatário. Por essa razão são perfeitamente válidas as doações de objetos, utensílios e outros bens móveis de pequeno valor que os fieis fazem em favor das igrejas sem qualquer documento escrito.   

Vamos analisar agora a conduta da entidade religiosa que pede e aplica as doações. As igrejas possuem ampla liberdade para estabelecer a sua forma de organização, sua estruturação interna e o seu modo de funcionamento, conforme art. 44, § 1o. Com suporte nesse dispositivo, as igrejas são livres também para definir a maneira mais conveniente e oportuna de pedir as doações, seja em dinheiro, bens ou valores. Todavia, por se estabelecer na doação um contrato, os participantes dessa relação contratual (o fiel como doador e a igreja como donatária) estão obrigados a guardar, tanto no momento da celebração do contrato quanto na sua execução, os princípios de probidade e boa-fé, por força do art. 422.  Lembrando que probidade é honestidade, retidão ou integridade de caráter, e, boa-fé é sinceridade, lisura e confiança recíproca entre as partes.

Percebe-se em vista desses princípios que não basta a simples manifestação de vontade do doador, no sentido de doar um bem ou valor para a igreja, para que a doação se torne definitivamente válida. É necessário que não ocorram vícios que afetam a livre declaração de vontade nem a boa-fé do doador.Porquanto, esses vícios constituem defeitos do negócio jurídico e podem acarretar a anulação e o consequente desfazimento da doação, além de gerar para a igreja a obrigação de reparar eventuais perdas e danos.

Dentre os vícios que maculam a livre manifestação de vontade, o que mais ocorre em determinadas igrejas é a coação. De acordo com o art. 151, acoação capaz de viciar a declaração de vontade é a que chega ao ponto de incutir o fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Não é difícil entender essa regra jurídica quando confrontada com os rituais de certas organizações religiosas, que frequentemente se utilizam de meios de coação para angariar mais contribuições. 

Lamentavelmente, existem nos vários tribunais em nosso país diversas ações judiciais condenando essas igrejas ao pagamento de indenizações ou obrigando-as a restituir os bens e valores doados. Isso, por terem coagido seguidores a doarem seus bens em troca de bênçãos ou de proteção espiritual. Nesses locais as pessoas podem ser coagidas a doar dinheiro e bens mediante violência psicológica tão ampla e profunda, inclusive sob a pena de padecer doenças, sofrimentos e perdas materiais, que anula completamente a sensatez e o bom-senso na manifestação de vontade do doador. Resta apenas pleitear judicialmente a anulação da doação efetuada nessas circunstâncias.

Outro problema grave é a destinação dos bens que foram doados, pois nem sempre as igrejas utilizam o dinheiro exatamente nos fins para os quais pediram as doações. Os fiéis em alguns casos são enganados e iludidos pelas falsas necessidades de manutenção da igreja, quando na verdade seus líderes desviam recursos, formam patrimônio pessoal invejável, constroem obras faraônicas incompatíveis com os fins da igreja, compram emissoras de televisão, realimentando desse modo a máquina de pedir doações por meio do marketing televiso. Uma investigação apurada pode comprovar até mesmo a prática de crimes, como já ocorreu antes em nosso país. 

Diante de todo o exposto, cabe aos doadores o bom senso e o discernimento necessários para avaliar a imparcialidade dos métodos utilizados na coleta de ofertas e contribuições, bem como analisar se a igreja aplica adequadamente os recursos financeiros que são doados. Quanto às igrejas, cabe adotar alguns cuidados ao pedir as doações, além de observar os requisitos legais exigidos no contrato de doação, conforme explanados acima, visando não incorrer em práticas que podem ocasionar a invalidade das doações e consequentemente a sua anulação. Todas essas observações são importantes, para evitar os pavorosos escândalos que ecoam quando as igrejas são chamadas a responder por demandas judiciais que pleiteiam a devolução de bens ou valores que foram doados por fiéis. Enfim, a igreja precisa atuar dentro da lei.   

segunda-feira, dezembro 19, 2016

O PÚLPITO EM RUÍNAS PARTE 2


Por Pr. Silas Figueira


INTRODUÇÃO

O maior perigo que a igreja corre hoje não é a perseguição, e sim a perversão. Se Satanás não pode derrotar a igreja, tenta ingressar-se nela. A proposta de Satanás não é substituição, mas mistura. Não é apostasia aberta, mas ecumenismo. A ameaça mortal vem de dentro, das chamadas heresias domésticas.

Durante muito tempo lutamos contra as Testemunhas de Jeová, contra os Mórmons, contra os Adventistas, mas hoje estamos nos deixando seduzir pelo evangelho da prosperidade, pelo pensamento positivo, pelo determinismo. Doutrinas orientais têm invadido as nossas igrejas de forma caudalosa; psicologia ao invés do Evangelho transformador está tomando os púlpitos de nossas igrejas. Líderes que estão na mídia distorcendo as Escrituras com uma teologia louca, levando os incautos a se decepcionarem com Deus, pois eles, em nome de Deus, fazem promessas que distorcem o puro Evangelho.

Algum tempo atrás havia um determinado pastor pregando na televisão dizendo que qualquer líder ou igreja que prega que o crente tem que ficar rico é um enganador. Ele disse assim: “não pense que todo mundo vai ficar rico não, isso é balela, é cascata; qualquer pastor que promete riqueza a todo mundo é um cara de pau safado, um pilantra, ludibriador de fé. Digo aqui rasgado mesmo porque não tem conversa. Quem te falou que todo mundo vai ficar bem financeiramente? Quem te falou que todo mundo vai ficar rico? Onde está isso na Bíblia?”

Meses depois, este mesmo pastor estava na televisão dizendo tudo ao contrário do que havia dito antes (parece até música do Raul Seixas). Ele disse meses depois assim: “você só vai experimentar estas coisas o dia em que você aprender a ser liberal, se não você só vai ouvir e nunca experimentar em sua vida. Agora, Deus tem falado ao meu coração e vou dizer pra vocês, e quero ser profeta de Deus para que algum irmão que está me vendo pela TV e que estão aqui; Deus tem falado ao meu coração, Deus nesta reta final da igreja, Ele quer dar riquezas para crente, mas não quer dar riqueza para miserável... Deus quer dar riquezas para crentes liberais que vão investir na obra de Deus...”. Depois esse pastor pega uma Bíblia de estudos que ensina como alcançar vitória financeira. Quanta contradição!

Essa é mais uma ruína em nossos púlpitos que já andam tão esfacelados, tão cheios de “cupins espirituais” destruindo a sua base. Com isso em mente, vamos enumerar mais alguns fatos que têm levado muitos púlpitos à ruína hoje:

Primeiro, há pastores gananciosos atrás do púlpito. Há pastores mais interessados no dinheiro das ovelhas do que na salvação delas. Há pastores que negociam o ministério, mercadejam a palavra e transformam a igreja em um negócio lucrativo. Há pastores que organizam igrejas como empresa particular, onde prevalece o nepotismo. Transformam o púlpito em balcão, o evangelho e os crentes em consumidores [1].

O Evangelho sofre atualmente grande desgaste no seio da sociedade por causa dos “mercenários”, homens que fazem do ministério fonte de enriquecimento, verdadeiro comércio.

A avareza pode levar o servo de Deus a destruir seu ministério, pois se transforma num sentimento maligno, capaz de apagar os mais nobres anseios do espírito (Pv 15.27; Ec 5.10; Jr 17.11; 1Tm 6.10; Tg 5.3). Eis, o que a avareza pode fazer:

-  Acã apanhou o que era ilícito, mesmo sabendo que se tornaria maldito (Js 7.21).

- Balaão foi capaz de dar perverso conselho para ter os prêmios de Balaque (Nm 31.15,16, 22.5, 23.8; 2Pe 2.15; Jd 11; Ap 2.14).

Judas Iscariotes traiu o Mestre por causa de trinta moedas de prata (Mt 26.14-16).

O pastor, portanto, deve ter cuidado para não se deixar dominar pelo sentimento da avareza. Em busca de bom salário, pode sair do plano de  Deus, e seu ministério naufragar (Nm 16.15; 1Sm 12.4; At 20.33) [2].

Charles Haddon Spurgeon disse:

“Será que um homem que ama mais o seu Senhor estaria disposto a ver Jesus vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou a seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”Citado por John MacArthur [3].

Segundo, há muitos pastores mundanos atrás do púlpito. A igreja contemporânea está passando por uma revolução sem precedentes, desde a Reforma Protestante, em seus estilos de adoração. O ministério das igrejas casou-se com a filosofia de marketing, e o “filhote monstruoso” dessa união é um diligente esforço para mudar a maneira como o mundo enxerga a igreja. O ministério da igreja está sendo completamente renovado, na tentativa de torná-lo mais atraente aos incrédulos.

Os especialistas nos dizem que pastores e líderes de igrejas que desejam ser mais bem-sucedidas precisam concentrar suas energias nesta nova direção. Forneça aos não-cristãos um ambiente inofensivo e agradável. Conceda-lhes liberdade, tolerância e anonimato. Seja sempre positivo e benevolente. Se for necessário pregar um sermão, torne-o breve e recreativo. Não pregue longa e enfaticamente. E, acima de tudo, que todos sejam entretidos. As igrejas que seguirem estas regras experimentarão crescimento numérico, eles nos afirmam; e as que as ignorarem estarão fadadas à estagnação [4].

Este tem sido, há muito tempo, os “cultos” que temos visto por aí. Mas quem se enquadra dentro desse sistema são pastores mundanos que deixaram o caminho da piedade para seguir o caminho do sucesso. Líderes que querem movimento e não vidas transformadas pelo poder do Evangelho. Pastores que utilizam do pragmatismo para ver resultados “positivos” na igreja.

Recentemente um carro de som estava passando pelos bairros da cidade que moro convidando os jovens para um baile funk, só que este baile era em uma igreja evangélica.    
  
Terceiro, há muitos pastores mal intencionados atrás do púlpito. Há muitos pastores que distorcem a Palavra para que ela tenha o resultado esperado nos ouvidos dos ouvintes. Como disse A. W. Tozer: “Qualquer um consegue provar qualquer coisa juntando textos isolados” [5]. E o que mais temos visto são textos fora de contexto sempre com um mau pretexto. Pastores que botam na boca de Deus o que Deus não disse e tiram da boca de Deus o que ele disse. Como certo “apóstolo” que disse num culto: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, mas o pior que ele disse que esta palavra está na Bíblia. Sinceramente eu não sabia que Antoine de Saint-Exupéry constava como profeta ou era um dos apóstolos de Cristo.

A igreja de hoje tornou-se indolente, mundana e acomodada. Os líderes da igreja estão obcecados com o estilo e metodologia; perderam o interesse pela glória de Deus e tornaram-se grosseiramente apáticos quanto à verdade e a sã doutrina.

Quando Deus promulgou o Segundo Mandamento, que proibia a idolatria, Ele acrescentou a seguinte advertência: “Eu Sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira geração daqueles que me aborrecem” (Êx 20.5). Outras passagens das Escrituras deixam claro que os filhos nunca são castigados diretamente pela culpa dos pecados de seus pais (Dt 24.16; Ez 18.19-32). Todavia, as consequências naturais daqueles pecados passam realmente de geração à geração. Os filhos aprendem com o exemplo dos pais e imitam o que veem. Os ensinos de determinada geração estabelecem um legado espiritual herdado pelas gerações seguintes. Se os “pais” de hoje abandonarem a verdade, a restauração demandará várias gerações. Os líderes da igreja são os principais responsáveis por estabelecerem o exemplo [6].

Pelo andar da carruagem, creio que a próxima geração, se Deus não intervir, estará perdida dentro das igrejas. Pois o que mais vemos são pastores mal intencionados distorcendo as Escrituras e, por sua vez, crentes que são verdadeiros analfabetos biblicamente falando. Gente que estão longe de seguir o exemplo dos irmãos de Bereia que consultavam as Escrituras diariamente para conferir o ensino de Paulo (At 17.11).

CONCLUSÃO

Que triste realidade a igreja tem enfrentado, mas cabe a cada um de nós, que queremos ver o Reino de Deus estabelecido, lutar com todas as forças para não sucumbirmos diante dessas demandas mundanas.

A luta não tem sido nada fácil, pois o mundo “gospel” tem lutado pera arrebanhar o maior número possível de pessoas e, infelizmente, tem conseguido. Com isso temos visto crentes fracos, mundanos, arrogantes, gente que pensa que são príncipes e princesas de Cristo, e com isso, acham que são melhores do que as outras. Não temos visto crentes a imagem e semelhança de Cristo, mas de seus líderes gananciosos, mundanos e mal intencionados. Gente que reflete a imagem de seus líderes carnais e satânicos.

Eu realmente não sei se vamos vencer está batalha, mas uma coisa eu peço a Deus, que Ele me ajude a continuar pregando a verdade ainda que esta seja pregada a poucos.

Que o Senhor nos ajude.

Pense nisso!     

Fonte:

1 – Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 17.

2 – Mendes, José Deneval. Teologia Pastoral. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 12ª Edição 2003: p. 39.

3 – MacArthur, John. Com Vergonha do Evangelho. Editora Fiel, São José dos Campos, SP, 2014: p. 17.

4 – Ibid, p. 45.

5 – Tozer, A. W. A Vida Crucificada. Editora Vida, São Paulo, SP, 2013: p. 20. 

6 – MacArthur, John. Guerra pela verdade. Editora Fiel, São José dos Campos, SP, 2014: p. 18. 

O PÚLPITO EM RUÍNAS


Por Pr. Silas Figueira


Ouvi a história que um pastor que estava carregando um púlpito de madeira nas costas pela rua. Alguém que conhecia o pastor lhe perguntou para onde ele estava levando aquele púlpito; ele então respondeu que estava levando o púlpito para a marcenaria, pois o mesmo estava em ruínas devido aos cupins em sua base.

Fiquei pensando nesse ocorrido e comecei a observar que há hoje em dia muitos púlpitos em ruínas devido ao ataque de “cupins” em sua base. Embora nós temos visto hoje em dia a moda dos púlpitos de acrílico, mas a base está sendo atacada por “cupins” espirituais. E a base dos púlpitos em ruína hoje são os líderes que estão por trás deles. Pessoas que não condizem com o nome que carregam; o nome de cristãos. Pessoas que estão em ruínas em várias áreas de suas vidas. Líderes que estão à frente de uma congregação, seja ela pequena, média ou grande, mas tem sido referência negativa para essas pessoas. Líderes que influenciam e que, de alguma forma, direcionam muitos para o mal e não para o bem. Gente trabalhando para o diabo, mas usando o nome de Deus.

Vamos enumerar alguns fatos que têm levado muitos púlpitos à ruína hoje:

Primeiro é vermos líderes não convertidos atrás do púlpito. Parece loucura o que vou falar, mas infelizmente não é, há muitos líderes atrás do púlpito que não nasceram de novo. Pessoas que nunca tiveram uma experiência de conversão. Agem como crente, tem cacoete de crente, mas estão longe de uma fé genuína, pois não nasceram de novo.

Vemos isso através das próprias palavras do Senhor Jesus no final do Sermão do Monte:

Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?” Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! (Mt 7.22,23 – NVI).

Como disse Spurgeon, que coisa horrível, ser pregador do evangelho, e, todavia, não estar convertido! Um pastor destituído da graça é semelhante a um cego eleito professor de ótica, que faz filosofia sobre a luz e a visão, comentando e distinguindo para outros os belos sombreados e as delicadas combinações das cores prismáticas, enquanto ele mesmo está absolutamente em trevas! É um mudo elevado à cátedra de música; um surdo a falar sobre sinfonias e harmonias! Uma toupeira pretendendo criar filhotes de águias; um molusco eleito presidente de anjos! [1].

Tais líderes são cegos guindo cegos (Mt 15.14; Lc 6.39). São pessoas que estão indo para o buraco e estão levando outros com eles. 

Segundo é vermos líderes deformados em seu caráter. Spurgeon diz que se o nosso relógio não estiver certo, muitas poucas pessoas, além de nós mesmos, sofrerão com o engano, mas se o do edifício dos Horse Guards, de Londres, ou o do Observatório de Greenwich, estiver errado, a metade de Londres ficará desorientada. Assim com o ministro. Ele é o relógio da comunidade. Muitos conferem a sua hora com ele e, se ele for incorreto, todos andarão erradamente, uns mais outros menos, e em grande medida ele terá que responder por todos os pecados que ocasiona [2].

É igual a história de um determinado pastor que assumiu uma igreja. No dia da posse ele estava com a esposa, pagaram hotel para o casal passar a noite... Alguns dias depois esse pastor disse que estava separado de sua esposa e que estava aberto para novos relacionamentos. Não tardou muito, vários membros da igreja passaram a agir como ele e ainda diziam que se o pastor podia eles podiam também.

Se houver pecado na congregação que não seja o pastor o exemplo desse pecado. Como disse Paulo a Timóteo:

“Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros. Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem” (1Tm 4.12-16 – NVI).

Terceiro é vermos líderes preguiçosos no estudo da Palavra. A. W. Tozer falando a respeito do coração inconstante diz que o problema é que, em geral, as únicas atividades nas quais todos perseveram são aquelas em que a natureza as força a praticar – comer, beber, dormir, proteger a si mesmo, ou outro poderoso instinto interno. Enquanto humanidade perdurar, o amor, o casamento e tudo mais continuarão a existir, já que esses são instintos profundamente arraigados à nossa espécie. Entretanto, aquilo que requer planejamento e um esforço cuidadoso e árduo torna-se fácil de abandonar [2]. No caso em questão a perseverança em estudar as Sagradas Escrituras.

Para tal é necessário, em primeiro lugar, ter senso de responsabilidade. Ter consciência de que temos que estudar com dedicação e empenho, pois afinal de contas a igreja espera de nós alimento sólido toda vez que nos posicionarmos atrás do púlpito, e não lhes oferecermos palha como muitos fazem. Mas para isso é necessário sermos responsáveis, pois o irresponsável não se importa com isso.

Manejar bem a palavra da verdade implica em dedicação e empenho, esforço redobrado, desejo de fazer o melhor pelo Reino e para o Reino. 

Tomemos como exemplo a carta de John Wesley a John Trembath:

“O que tem lhe prejudicado excessivamente nos últimos tempos e, temo que seja o mesmo atualmente, é a carência de leitura. Eu raramente conheci um pregador que lesse tão pouco. E talvez por negligenciar a leitura, você tenha perdido o gosto por ela. Por esta razão, o seu talento na pregação não se desenvolve. Você é apenas o mesmo de há sete anos. É vigoroso, mas não é profundo; há pouca variedade; não há sequencia de argumentos. Só a leitura pode suprir esta deficiência, juntamente com a meditação e a oração diária. Você engana a si mesmo, omitindo isso. Você nunca poderá ser um pregador fecundo nem mesmo um crente completo. Vamos, comece! Estabeleça um horário para exercícios pessoais. Poderá adquirir o gosto que não tem; o que no início é tedioso será agradável, posteriormente. Quer goste ou não, leia e ore diariamente. É para sua vida; não há outro caminho; caso contrário, você será, sempre, um frívolo, medíocre e superficial pregador. Faça justiça à sua própria alma; dê-lhe tempo e meios para crescer. Não passe mais fome. Carregue a sua cruz e seja um cristão no verdadeiro sentido da palavra. E então, todos os filhos de Deus se regozijarão (e não se afligirão) consigo; e, particularmente”.

Poderíamos ampliar essa lista, mas creio que tudo começa pela falta de temor, por que muitos na verdade nunca tiveram uma experiência de conversão. Quem não é convertido não tem o Espírito Santo habitando em si, quem não tem o Espírito Santo não pertence ao Senhor e quem não pertence ao Senhor é filho do diabo.

O que temos visto hoje em muitas igrejas são filhos do diabo se passando por filho de Deus e levando as pessoas para o inferno com elas.

Pense nisso!

Notas:   
1 – Spurgeon, C. H. Lições aos meus alunos, vol. 2. Editora PES, São Paulo, SP, 2002: p. 11.
2 – Spurgeon, C. H. Lições aos meus alunos, vol. 2. Editora PES, São Paulo, SP, 2002: p. 20.
3 – Tozer, A. W. Os Perigos de Uma Fé Superficial. Graça Editorial, Rio de Janeiro, RJ, 2014: p. 86.