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sexta-feira, dezembro 21, 2012

Reconstruindo os muros caídos

Muros de Jerusalém



Não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força."  Neemias 8:10




Wilma Rejane
A Tenda na Rocha

Neemias foi contemporâneo de Esdras. Ambos viveram em uma fase difícil da história de Israel, quando o povo havia sido levado cativo para Babilônia e os que ficaram na cidade de Jerusalém, conviviam com um cenário desastroso. A cidade estava destruída. Casas e muros derrubados,  construções em pedras despedaçadas pelo contato com o fogo e fúria dos inimigos.


“Os sobreviventes, lá na província que escaparam do cativeiro estão em grande dificuldade e vergonha, o muro de Jerusalém é dividido, e as suas portas foram destruídas pelo fogo.” Ne 1:3


Copeiro do rei Artaxexes, considerado funcionário de confiança da corte, Neemias servia na capital de Susã, a 150 milhas do Rio Tigre, que atualmente é o Irã. Ele adquiriu permissão e favores do rei para voltar a Jerusalém e reconstruir a cidade e suas fortificações. O ano é aproximadamente 432 a. C. O que aprendemos com Neemias? Essa é mais uma narrativa Bíblica fortalecedora, restauradora!  Neemias era um homem de fé e temor a Deus, morando em um luxuoso palácio, nada lhe faltava, mas seu coração desfalecia pelos compatriotas  judeus. Ele deixa o palácio e segue em missão para Jerusalém. Um homem que revela a grandeza da intercessão, da oração humilde, sincera e cheia de amor ao próximo. Além disso, a capacidade de discernimento de Neemias é algo que devemos buscar a fim de não cedermos às ciladas do inimigo.


“À noite me levantei, e uns poucos homens, comigo; não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no coração para eu fazer em Jerusalém .

Então, lhes disse: Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas, queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser vergonha.” Neemias 2:12 e 17.

Reedificar a cidade de Jerusalém representava também  recobrar os ânimos dos moradores, a alegria de espírito, a comunhão espiritual com Deus. Jerusalém estava nua, desprotegida. Sem fronteiras, os inimigos adentravam livremente na cidade, saqueando o que restava, inclusive as vidas. Disse Jesus: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez.” Ap 16:15.  Essa situação é tão idêntica ao homem caído, entregue ao pecado. Sua alma fica refém do diabo que tem acesso livre às portas de seu coração.  Neemias vem nos dizer que as fortalezas de pedra, destruídas e queimadas a fogo pelos inimigos, podem ser erguidas novamente, aleluia!


E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito; e escarneceu dos judeus .E falou na presença de seus irmãos, e do exército de Samaria, e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-lhes-á isto? Sacrificarão? Acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas? Neemias 4:1-2


Sambalate é a imagem de Satanás, aquele que nos acusa e despreza na tentativa de nos  fazer desistir . Seu desejo é como uma boca grande e sempre aberta para devorar dizendo  palavras de derrota: “ pobres e fracos judeus, tudo que têm são montões de pedras queimadas que só servem para o lixo, até uma raposa derrubaria esses muros que pensam em reconstruir”. Querido leitor, essa é a missão do mal. Tal qual fez com Neemias faz conosco. Diz que não somos capazes, que somos pecadores, “pedras queimadas”.  Seu prazer é ver muros derrubados, territórios saqueados, nus a frio e fome. Quando estivermos ouvindo essas vozes que surgem muitas vezes em forma de pensamento,  ou  através de “Sambalates”, saibamos de onde vem. Procuremos, assim como fez Neemias, orar , confiar  e não desistir de agir conforme a Palavra.


A  figura das pedras queimadas merece destaque.  Para Sambalate elas  eram   inúteis montões. Para Neemias, tinham valor tal qual as pedras originais. Essas pedras queimadas, podem ser eu e você, leitor. Feridos, decepcionados, vivendo adversidades. Pode ser quem um dia já se sentiu forte e feliz o bastante para ser  muro sem brechas. Pode ser o que se levanta, se ergue, após seguidas derrotas. Pedras queimadas fala de vidas “passadas pelo fogo” e que aos olhos de muitos pode não ter valor, mas para Deus assim como para Neemias, elas podem  reconstruir com a mesma força e utilidade de pedras virgens. Pedras queimadas em Jerusalém, fala de vida espiritual. Pessoas que já viveram com vigor a vida cristã e hoje não mais. Acredito que muitas são as pedras queimadas espalhadas pela igreja, necessitando serem ajuntadas e valorizadas para construírem (ou reconstruírem) fortalezas.


Neemias 4:7 E sucedeu que, ouvindo Sambalate e Tobias, e os árabes, os amonitas, e os asdoditas, que tanto ia crescendo a reparação dos muros de Jerusalém, que já as roturas se começavam a tapar, iraram-se sobremodo.





Essa é uma fotografia de um muro reedificado com pedras queimadas, é perceptível a diferença de cor comparando-as com as pedras originais, elas são mais escuras. Esse muro fica em Banias  150 Km ao norte de Jerusalém. São séculos de construção e as pedras queimadas continuam firmes na sustentação da obra.  Neemias não descartou as pedras queimadas e viu que poderiam ser tão úteis quanto as demais, e ele estava certo. Sambalate estava furioso porque os muros se reerguiam, as brechas se fechavam, mas  Deus era com os construtores e a obra não parava.  Neemias 4: 14 “ Não os temais! Lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e pelejai por vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossas mulheres e vossas casas.”

Reconstruir os muros significava também reconstruir a vida familiar de muitos dos envolvidos na obra. Que grande, magnífica lição nos traz o livro de Neemias! Para cada vida restaurada espiritualmente, para cada pedra queimada assentada, muitas outras vidas beneficiadas! Não devemos desistir de buscar a Deus por causa da rudeza do mundo, da maldade das pessoas. Pelo contrário. Se desanimarmos na batalha, seremos a pedra inútil que “Sambalate” se alegrará em chutar e despedaçar até virar pó e se esvair como poeira. Nossa força não está em nós mesmos, mas no Senhor, grande e temível, o mesmo que foi com Neemias para vencer. 

“Acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco do mês de elul, em cinquenta e dois dias.” Neemias 6:15


"Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força."  Neemias 8:10


A destruição se dá de forma tão rápida que às vezes é difícil de acreditar como em  pouco tempo  as coisas tomaram proporção  tão grande! O fogo que consome uma floresta, carros que se chocam na estrada, guerras armadas, tudo destrói em segundos e às vezes leva anos para ser reconstruído. Criticar como Sambalate é mais fácil que agir como Esdras, por essa causa, o mundo conspira contra os filhos de Deus. Os muros da cidade de Jerusalém foram reconstruídos, sob a liderança de Neemias, em 52 dias. Foram destruídos em no máximo uma semana. Se nós estamos hoje tal qual as pedras queimadas de Jerusalém, saibamos que somos preciosos para Deus. A força para se reerguer está no Senhor que se alegrará em nos colocar como alicerce em nossa casa, trabalho, enfim aonde formos. Sambalate armou muitas armadilhas para que Neemias fosse morto e parasse a obra, mas não teve sucesso porque nem por um minuto Neemias duvidou de que Deus era com ele para o bem: “ A boa mão do meu Deus era comigo” Ne 2:8.


Essa é a lição trazida pelas pedras queimadas erguidas nos muros da cidade de Jerusalém. Oro para que assim como tenha falado a mim, fale a tantos quantos o Senhor Deus enviar.


Deus o abençoe.

Bíblia de Estudo Plenitude, Revista e corrigida, SBB, tradução João Ferreira de Almeida 1995. Livro de Neemias.

sábado, novembro 03, 2012

Sobre essa menininha, a Esperança



Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio e cuja esperança está posta no Senhor, seu Deus.
Salmos 146:5

Sammis Reachers

Uma das chamadas três virtudes teologais, citadas pela apóstolo Paulo em 1Co 13.13 (ao lado da Fé e do Amor) a Esperança é, das três, talvez a virtude menos considerada, e no entanto parece-me ser a mais inatamente presente no ser humano.

Mas quem é essa menina, essa força invisível, esse brilho nos olhos que é a Esperança? Por que a Esperança resiste tão fortemente, mesmo esmagada e esquecida no fundo de uma cela? Mesmo de joelhos dobrados à coronhadas, mesmo diante do pelotão, com armas apontadas para sua cabeça de olhos vendados, inchados de tanto levar socos, torturada? Mesmo diante do sorriso imundo de Satanás, como essa força, essa menininha, a esperança no escape, a esperança no bem, a esperança no Altíssimo, resiste no subsolo deste edifício implodido que é o homem? Tenho uma definição para a Esperança: Rebelião contra a Queda.

A Esperança, a inata (por Deus plantada) rebelião contra a Queda viva no coração humano, quando alcança a graça de encontrar seu objeto na epifania (manifestação física da divindade) Jesus Cristo, torna-se de Rebelião em Revolução. Mas ainda em estágio de Rebelião, manifesta-se já sua maior singularidade: a Esperança humana, mesmo antes do nascimento de Cristo e mesmo para aqueles que, ontem ou hoje, nunca o conheceram, é já Cristo abraçando o mundo por toda a extensão da história, do homem; é ela própria a ‘eternidade que Deus pôs no coração de todo homem’ (Ec 3.11).

Talvez você tenha já ouvido falar no Fator Melquisedeque, um conceito fundamental em Missiologia, e que foi proposto pelo antropólogo Don Richardson, em seu livro de mesmo nome. Num resumo wikipediano, lê-se que “O Fator Melquisedeque é designação dada à consciência universal da existência de um Deus único, entre as diversidades de expressões culturais e religiosas dos diferentes povos e civilizações ao longo da história.” É como um ‘gancho’ deixado por Deus em cada cultura, para facilitar a posterior assimilação da Revelação do Evangelho.

Pois entendo nossa menininha, a Esperança, como a expressão básica, elementar, a molécula feita e utilizada para erigir no homem aquilo que Don Richardson definiu como o Fator Melquisedeque. Uma outra metáfora: a Esperança como os tijolinhos que formam o templo vazio que nasce junto com cada filho de Adão, templo este que tem o tamanho exato de Deus, pois feito sob estrita medida. O homem nasce um templo vazio, mas feito de Esperança. A Esperança, tudo o que nos restou, é o edifício pronto para recebê-Lo (a Deus) em nós. A Esperança é a mão que em nós o Espírito Santo usa para segurar o outro lado da corrente, a Mão de Deus.

Jurgen Moltmann, teólogo alemão, proponente da principal corrente da assim chamada Teologia da Esperança, e que, soldado da Alemanha derrotada na Segunda Guerra, foi mandado para campos de prisioneiros de guerra na Irlanda, nos diz:
“Vi homens nos campos que haviam perdido a esperança. Eles simplesmente se entregavam, adoeciam e morriam. Quando na vida a esperança hesita e se desfaz, uma tristeza que vai além de todo o consolo toma conta da pessoa. Já a esperança incomoda e inquieta. A pessoa não se contenta mais com a situação, com a forma como as coisas estão.”

Moltmann foi inspirado pelo filósofo alemão Ernst Bloch, para quem todo ser humano é instintivamente dotado de esperança, é insuflado a buscar – avançando - a Utopia sonhada. Bloch era ateu e marxista revisionista; tinha, portanto, uma visão secular para qual seria a Utopia sendo perseguida pelo homem. Utopia esta que Moltmann corretamente entende como o Reino vindouro de Cristo, cuja ressurreição e ascensão são as marcas patentes da promessa de seu Retorno, são como que os próprios signos da Esperança.

Se Moltmann era soldado um alemão aprisionado em campos de concentração dos vencedores Aliados, e que durante seu sofrimento em meio a tal situação achegou-se à esperança cristã, na outra face desta estranha moeda, o psiquiatra judeu Viktor Frankl, contemporâneo de Moltmann, desenvolvia as bases de sua Logoterapia, enquanto prisioneiro também em campos de concentração, mas como prisioneiro dos alemães.

Frankl, tendo perdido praticamente toda a sua família para a máquina de extermínio de Hitler, agarrou-se (ele também) à Esperança (entendida, em suas próprias palavras, como ‘fé no futuro e vontade de futuro’), e desenvolveu sua doutrina baseado na valorização da esperança (otimismo) como sentido para a vida. Frankl cedo percebeu no homem um vazio causado pela ‘vontade de Sentido’, e concluiu (renegando aqui seus predecessores e antigos ‘mestres’ Freud e Adler) acertadamente que esse vazio tem origem espiritual, e desse vazio decorrem os principais problemas psíquicos do homem.

Repito aqui a pergunta feita acima: que força é essa que resiste no subsolo do edifício homem, mesmo quando este edifício é implodido? Ambos os prisioneiros poderiam ter desistido de suas vidas e se entregado, mas ambos vislumbraram, cada qual a seu modo, a Esperança, e agarraram-se a ela com todas as suas forças, com tudo de si. E passaram a desenvolver suas doutrinas tendo ela por fundamento. Não é algo fascinante? Continuemos com Frankl:

Estás no valo trabalhando. O crepúsculo que te envolve é cor-de-cinza, o céu acima é cinzento, cinzenta a neve no pálido lusco-fusco, os trapos dos teus companheiros são cinzentos, e também os semblantes deles são cor-de-cinza. Retomas outra vez o diálogo com o ente querido. Pela milésima vez lanças rumo ao sol teu lamento e tua interrogação. Buscas ardentemente uma resposta, queres saber o sentido do teu sofrimento e de teu sacrifício - o sentido de tua morte lenta. Numa revolta última contra o desespero da morte à tua frente, sentes teu espírito irromper por entre o cinzento que te envolve, e nesta revolta derradeira sentes que teu espírito se alça acima deste mundo desolado e sem sentido, e tuas indagações por um sentido último recebem, por fim, de algum lugar, um vitorioso e regozijante ‘sim’.”

Ao erigirem a Esperança como sua interna rebelião contra a derrota, a solidão, o vazio e a morte, ambos venceram. É Agostinho de Hipona quem diz: “A Esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.

Causa fascinação que em situações extremas, de dor radical, holística (abarcando todas as dimensões do humano), essa virtude resista combatendo no coração desses e de tantos outros homens? Mas é isso mesmo que ela é, o Princípio Combatente no coração do homem, a arma do Santo Espírito. Mesmo atirada ao fundo lamacento do poço, como José, como Jeremias, ela escava, ela escala, ela acredita - e oferece um sorriso para insuflar os mutilados.

Há um poema de um grande poeta cristão francês, Charles Péguy, que, em seu estilo intimista e desabusado, e que faz tão bom uso das repetições (talvez como nenhum outro poeta que eu conheça), fala oportunas palavras sobre essa menina magricela, mas apaixonante e veementemente forte, a Esperança. Coligi esse poema na Breve Antologia daPoesia Cristã Universal que organizei. É um pouco extenso, mas vale a pena você ler.

A Esperança

Tradução de Guilherme de Almeida

A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança.

A fé, isso não me espanta.
Isso não é espantoso.
Eu resplandeço de tal maneira na minha criação.
No sol e na lua e nas estrelas.
Em todas as minhas criaturas.
Nos astros do firmamento e nos peixes do mar.
No universo das minhas criaturas.
Sobre a face da terra e sobre a face das águas.
No movimento dos astros que estão no céu.
No vento que sopra sobre o mar e no vento que sopra
no vale.
No calmo vale.
No tão quieto vale.
Nas plantas e nos animais e nos animais das florestas.
E no homem.
Minha criatura.
Nos povos e nos homens e nos reis e nos povos.
No homem e na mulher sua companheira.
E principalmente nas crianças.
Minhas criaturas.
No olhar e na voz das crianças.
Porque as crianças são mais minhas criaturas.
Do que os homens.
Elas não foram ainda desfeitas pela vida.
Da terra.
E entre todos elas são meus servidores.
Antes de todos.
E a voz das crianças é mais pura do que a voz
dos ventos na calma do vale.
No vale tão quieto.
E o olhar das crianças é mais puro do que o azul do
céu, do que o leitoso do céu, e do que um raio
de estrela na calma noite.
Ora eu resplandeço de tal maneira na minha criação.
Na face da montanha e na face da planície.
No pão e no vinho e no homem que lavra e no homem
que semeia e na messe e na vindima.
Na luz e nas trevas.
E no coração do homem que é o que há de mais
profundo no mundo.
Criado.
Tão profundo que é impenetrável a todo olhar.
Exceto ao meu olhar.
Na tempestade que faz cabriolar as ondas e na
tempestade que faz cabriolar as folhas.
Das árvores da floresta.
E ao contrário na calma de uma bela tarde.
Na areia do mar e nas estrelas que são uma areia
no céu.
Na pedra do limiar e na pedra da lareira e na pedra
do altar.
Na oração e nos sacramentos.
Nas casas dos homens e na igreja que é minha casa
sobre a terra.
Na águia minha criatura que voa sobre os píncaros.
A águia real que tem pelo menos dois metros de
envergadura e talvez três metros.
E na formiga minha criatura que rasteja e que armazena
um pouquinho.
Na terra.
Na formiga meu servidor.
E até na serpente.
Na formiga minha serva, minha ínfima serva, que
armazena a custo, a parcimoniosa.
Que trabalha como uma desgraçada e que não tem
mesmo folga e que não tem mesmo descanso.
A não ser a morte e o longo sono de inverno.

Eu resplandeço de tal maneira em toda a minha criação.
..........................   ...........................   .....................

A caridade, diz Deus, isso não me espanta.
Isso não é espantoso.
Essas pobres criaturas são tão infelizes que a não ser
que tivessem um coração de pedra, como não
haveriam de ter caridade umas para com as outras.
Como não haveriam de ter caridade para com seus irmãos.
Como é que eles não haviam de tirar o pão da boca,
o pão de cada dia, para dá-lo a desgraçadas
crianças que passam.
E meu filho teve para com eles uma tal caridade.
Meu filho irmão deles.
Uma tão grande caridade.

Mas a esperança, diz Deus, eis o que me espanta.
A mim mesmo.
Isso é espantoso.
Que essas pobres crianças vejam como tudo isso acontece
e acreditem que amanhã vai ser melhor.
Que vejam como isso acontece hoje e acreditem que vai
ser melhor amanhã cedo.
Isso é espantoso e é mesmo a maior maravilha da nossa
graça.
E eu mesmo me espanto com isso.
E é preciso que de fato minha graça seja de uma força
incrível.
E que ela escorra de uma fonte e como um rio
inesgotável.
Desde aquela primeira vez que ela escorreu e escorre
sempre desde então.
Na minha criação natural e sobrenatural.
Na minha criação espiritual e carnal e ainda espiritual.
Na minha criação eterna e temporal e ainda eterna.
Mortal e imortal.
E aquela vez, ó aquela vez, desde aquela vez que
ela escorreu, como um rio de sangue, do flanco
trespassado de meu filho.
Qual não deve ser a minha graça e a força da minha
graça para que essa pequena esperança, vacilante
ao sopro do pecado, trêmula a todos os ventos,
ansiosa ao menor sopro,
seja tão invariável, mantenha-se tão fiel, tão reta,
tão pura; e invencível, e imortal, e impossível
de apagar-se; que essa pequena flama do
santuário.
Que queima eternamente na lâmpada fiel.
Uma chama tiritante atravessou a espessura dos mundos.
Uma chama vacilante atravessou a espessura dos tempos.
Uma chama ansiosa atravessou a espessura das noites.
Desde aquela primeira vez que a minha graça escorreu
para a criação do mundo.
Desde então que a minha graça escorre sempre para a
conservação do mundo.
Desde aquela vez que o sangue do meu filho escorreu
para a salvação do mundo.
Uma chama impossível de se alcançar, impossível de se
apagar ao sopro da morte.

O que me espanta, diz Deus, é a esperança.
Eu fico pasmo.
Essa pequena esperança que parece uma cousa de nada.
Essa pequena esperança.
Imortal.
Porque as minhas três virtudes, diz Deus.
As três virtudes minhas criaturas.
Minhas filhas minhas crianças.
Elas próprias são como as minhas outras criaturas.
Da raça dos homens.
A Fé é uma Esposa fiel.
A Caridade é uma Mãe.
Uma mãe ardente, cheia de coração.
Ou uma irmã mais velha que é como uma mãe.
A Esperança é uma meninazinha de nada.
Que veio ao mundo no dia de Natal do ano passado.
Que brinca ainda com o boneco de neve.
Com seus pinheirinhos de madeira da Alemanha cobertos
de geada pintada.
E com seu boi e seu jumento de madeira da Alemanha.
Pintados.
E com seu presépio cheio de palha que os animais não
comem.
Porque elas são de madeira.
Entretanto é essa meninazinha que atravessará os
mundos.
Essa meninazinha de nada.
Ela só, levando os outros, que atravessará os mundos
volvidos.

* * *

Esperança humana: Rebelião contra a Queda, com Cristo tornada Revolução contra a Queda. Muitos não suportam esta palavra, mas o que dizer? O Cristianismo é mesmo fundamentalmente revolucionário.

 * * *

Moltmann, Jürgen. Citado por Ed. L. Miller em Teologias Contemporâneas (São Paulo: Vida Nova, 2011).
Frankl, Viktor E.. Em Busca de Sentido (Petrópolis: Editora Vozes, s/d).
Péguy, Charles. Breve Antologia da Poesia Cristã Universal (Edição eletrônica, org. Sammis Reachers, 2012).

sábado, maio 19, 2012

A Genealogia dos filhos de Deus



"E a Jacó nasceu José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama Cristo". Mateus 1:16


Wilma Rejane 
A Tenda Na Rocha
 

Genealogias não são textos tão agradáveis de se ler: exige certo conhecimento das pessoas citadas e pausas para compreender melhor a linha de parentescos. A Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento preserva essa cultura, tão valorizada até os dias atuais pelos judeus. Eles acompanhavam cada acréscimo das linhas reais sucessórias a fim de conhecer quem seria o Salvador prometido por Moisés ( e os antigos) a livrar Israel dos inimigos. Algumas escolas judaicas até desenvolveram certas superstições rigorosas em relação as genealogias, o que fez com que Paulo advertisse em suas epístolas:

Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina,Nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora. Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. 1 Timóteo 1:3-5

Genealogia havia se tornado praticamente doutrina, isso desagradava a Deus, especialmente porque amar o próximo estava em falta. Era a letra matando e o coração esfriando. Mas esse fato, me chama atenção: Se os judeus eram tão metódicos e rigorosos em observar as genealogias, a fim de reconhecerem o Messias Salvador, por que então não o fizeram quando chegou a hora? Por que não viram em Jesus o verdadeiro Rei de Israel? 

É que em algum lugar da história de Israel, a linha sucessória de Davi perdeu a importância. Com Roma no poder, os reis passaram a ser estrangeiros e o povo tinha reverência e respeito a isso. Apesar da corrupção e opressão dominante que formou cenário favorável para a vinda de um Messias. A opressão era tanta que a nação acreditava ser o Messias Salvador e Rei em Israel um líder politico a libertá-los do domínio romano.

Os Evangelhos de Mateus e Lucas, fazem o resgate da linha sucessória do reinado em Israel a fim de estabelecer Jesus como: Filho de Abraão, filho de Davi, Rei em Israel, em cumprimento as promessas existentes desde o Gêneses. Jesus, o Alfa e o Ômega, o Principio e o Fim ( Ap 22:13). E para Davi, foi dito: "Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre." II Samuel 7:16 

Note um fato muito interessante e que foi negligenciado por Israel quando do nascimento de Jesus em Belém: "No tempo do nascimento do Salvador, Israel era governada por estrangeiros . Os direitos da família real de Davi não foram reconhecidos e o legislador dos judeus era indicado por Roma. Fosse Judá uma nação livre e independente, governada pelo soberano legal, José o carpinteiro, teria sido coroado rei , e seu sucessor legal seria: Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus." (E.Talmage, O Cristo, Pag 83) 

A salvação vem dos judeus Jo 4:22 .Eis a grande e essencial questão: O Reino anunciado, chegado, já não era desse mundo, estava firmado e alicerçado no espírito: Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. João 18:36. Jesus era rei de fato, de direito e de um Novo Reino que só poderia ser reconhecido através de olhos espirituais. "É chegado a vós o reino de Deus." Lucas 10:9 

Conclusão 

O mundo em que vivemos é uma batalha entre dois reinos: bem e mal. Essa batalha está em nosso exterior e também interior. De qual dos reinos somos participantes? A qual dos reis estamos servindo? Em qual dos livros está sendo escrita a nossa genealogia? 

José era rei em Israel quando do nascimento de Jesus. Um rei sem coroa, sem trono, invisível aos olhos dos poderosos. Ser cristão é isso: Abnegar, renunciar a glória dos homens e receber a glória de Deus em humildade, sabendo que poderá ser perseguido pela fé. Perseguido por hostes espirituais e humanas, mas vencedor pelo mesmo espírito que ressuscitou nosso Rei Jesus!


Ser cristão é ser filho de Deus, inscrito na genealogia de Jesus: "Mas a todos quanto O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem em Seu nome" Jo 1:12. Enquanto os reinos desse mundo fazem sua história firmada em fama, sucesso e toda sorte de males, uma história paralela é contada. Uma genealogia é escrita no céu. Quem sabe, invisível aos olhos humanos, assim como a genealogia de José. Contudo, continuamente sob os olhos e cuidados do Pai.

A história dos maus é escrita para genealogia de morte eterna. A dos cristãos para salvação eterna! Essa história está guardada para o dia do juízo, quando os livros serão abertos e lá estará seu nome: 

"Então, se abriram livros,ainda outro livro, o livro da Vida foi aberto..." Ap 20:12


Wilma Rejane, nascida filha de Dionísia e Euzébio, recebeu o Reino de Deus no coração e eis filha de Abraão, filha de Davi, remida pelo sangue do Cordeiro, resgatada do reino das trevas, para o reino do filho do amor de Jesus: Filha de Deus, a ti está destinada a vida eterna com Deus, aleluia!!! 

Espero verdadeiramente que essa breve reflexão sobre a genealogia de Jesus, tenha falado ao seu coração, assim como falou ao meu. Quero fazer parte do reino do bem, da genealogia de Jesus, quero ter o meu nome escrito no livro da vida para viver eternamente com Deus em um lugar onde a dor e a morte jamais poderá chegar. 

Amém. 

segunda-feira, julho 18, 2011

Há Esperança em Acor


"Alegrai-vos na esperança..." Rm 12:12



Wilma Rejane
A Tenda Na Rocha


Acã foi um israelita que em rebeldia a Deus praticou o pecado do roubo, então ele e toda sua família, como em um ato de purificação da congregação, foi apedrejado. O local do acontecimento ficou marcado para sempre sendo rebatizado de “O Vale de Acor”. Acor, significa problema. Todos que passassem por ali apontariam para o “problema, o pecado de Acã” (Js 7:26).

O Vale de Acor é real, ele existe até os dias atuais, entre as terras de Benjamin, ao Sul de Jericó e é um dos caminhos que dá acesso à Terra Prometida. Acor é um memorial, não de ira, maldade, ou morte, mas de esperança. Porque o próprio Deus, em Sua misericórdia e bondade, fez saber através do profeta Oséias que Acor, é um estado de espírito que pode ser convertido: “E lhe darei as vinhas dali e o Vale de Acor, por porta de esperança; e ali cantará, como nos dias de sua mocidade e como no dia em que subiu a terra do Egito” Os 2:15.

A palavra esperança nesse verso é traduzida como “tiqvah”: Expectativa, algo desejado e previsto ansiosamente, vem do verbo” gavah”: “olhar esperançosamente” numa direção particular. É maravilhoso saber que em seu significado original, esta esperança, citada tantas vezes na Bíblia tinha o sentido de “esticar como uma corda, cordão”. Raabe foi instruída pelos espias, a amarrar um “tiqvah” na sua janela como uma corda de resgate. Raabe foi resgatada com toda sua família.

A esperança, em Cristo Jesus, internalizada pela meretriz Raabe, foi motivo de grande salvação. Aqui a mensagem do Evangelho aponta para a restauração: Acã e toda a família foram mortos no Vale de Acor. Raabe e toda a família foram salvos pela “tiqvah”, pela “porta da esperança”. Jesus é o que garante a transformação de vales de problemas, dor, pecado, vergonha, em memoriais de esperança, Ele é quem nos atrai com cordas de amor eterno para uma direção particular, onde reine o amor, a paz, e a alegria.

O Vale de Acor remonta a uma linda história de conversão. Tão real quanto o amor  que Deus sente por todos nós. Se você se identifica com o Vale dos problemas, te convido a esticar um cordão escarlate na porta do teu coração, assim como Raabe. Esta esperança, revestida de fé, será a vossa luz. E então, no lugar da vergonha, ser-lhe-a dado dupla honra. No lugar da condenação, salvação. Acor ficará para trás como um lugar deserto. Jesus é esta corda de resgate, pronta para alçar vidas. Segure-se a Ela.

Em Cristo, nosso Refúgio.

quarta-feira, março 12, 2008

Exercício de Esperança


Photobucket
A filha de Jairo - desenho by Advir.

"Clama a mim e responder-te-ei
e anunciar-te-ei coisas grandes
e firmes, que não sabes."
Jeremias 33:3.
João Cruzué

Um dos textos que mais me comove na Bíblia é a cura da filha de Jairo registrada em Marcos capítulo cinco. Ali podemos ver duas coisas: a busca desesperada por socorro de um pai com uma causa perdida e o poder da solução de problemas que há em Cristo Jesus.

Jairo era um dos líderes da sinagoga dos Judeus em Cafarnaun. Geralmente, os líderes judeus da época eram homens preconceituosos e críticos do ministério de Jesus. Ele e seus discípulos geralmente eram homens desprezados em seu tempo, pois não se adequavam à cultura religiosa judia, porque para administrar o sagrado naquela época, a pessoa tinha que ser descendente da tribo de Levi. Jesus era de Judá, e isto já era o bastante para que não fosse respeitado.

Todavia, Jesus não era apenas um homem de palavras. Milagres e curas se faziam presentes ao seu discurso. Sabedor disso, Jairo foi procurar ajuda nesta porta. Seu desespero era tão grande, por causa da filha que estava morrendo, que ao chegar perto de Jesus esqueceu sua posição e simplesmente ajoelhou-se aos pés do Mestre.

Esqueceu posição, preconceito e olhares críticos. A Bíblia relata que Jairo ajoelhou-se e rogava muito a Jesus que fosse até sua casa e impusesse as mãos na filha para que sarasse e vivesse. No meio do caminho a pior notícia: Não incomodes mais o Mestre, a tua filha está morta. E aqui vem a melhor lição desta mensagem: Jesus é solução dos problemas insolúveis. Jairo sentiu o peso daquela notícia ruim. Estava tudo acabado.

Tudo acabado - nada! Disse Jesus para Jairo: Não temas, crê somente.

E chegando na casa de Jairo, encontrou o povo pranteando. Deixou os pranteadores lá fora e chamou para si os pais da adolescente e os três discípulos: Pedro, Tiago e João. Os seis entraram no quarto e Jesus disse à adolescente morta: "Talitá cumi" - menina levanta-te!

E ela levantou-se e isto assombrou a todos os presentes.

Diante das piores circunstâncias da vida, Jesus não decepciona ninguém. Afirmativas do tipo: Agora está tudo perdido; agora está tudo acabado; agora não tem mais jeito. Acabou! Não resistem diante dEle. Eu mesmo já experimentei situações de grande estresse sem cair em desespero, porque aprendi que Deus é o nosso socorro bem presente na hora da angústia.

Sua situação é tão difícil que já se tornou desesperadora? Deixe de lado o preconceito, cultura e religião. Busque a presença de Jesus em sua vida e clame muito por ajuda. Isto funcionou para Jairo, funcionou para mim, tem funcionado para milhões e também vai tirar você do fundo do poço.

João Cruzué
para o Blog Olhar Cristão.
cruzue@gmail.com

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