Foto: Angela Bacon-Kidwell. Disponível na Internet. |
Por ELAINE CÂNDIDA
Publicação original: Experimente Jesus!
“Elias
era tão inteiramente humano quanto nós...”
Tiago
5:17 - Viva
Betty Anne Waters (1955), casada,
mãe de dois filhos, tinha 25 anos de idade e ainda não tinha terminado o
primário, quando seu irmão foi preso, acusado de assassinar brutalmente a Sra.
Katherine Brow, na pequeníssima cidade de Ayer, Massachusetts, EUA. Apesar de
alegar inocência e de nenhuma prova apontar para Kenny Waters, irmão de Betty, como
o autor do crime, ele foi condenado à prisão perpétua sem direito à
condicional. O júri baseou-se nas falas de Brenda Marsh, a ex-mulher do acusado
e mãe de sua filha, e também de Roseanna Perry, outra ex-namorada de Waters.
Ambas testemunharam contra Kenny no tribunal, inclusive declarando que ele
havia lhes confessado ter cometido aquele homicídio.
Embora Kenny já tivesse várias
passagens na delegacia da cidade por causa de pequenos delitos, como roubar
maçãs nos pomares dos vizinhos, envolver-se em pequenas brigas no bar, e
desacatar policiais, no momento do crime Kenny estava trabalhando numa
lanchonete, conforme comprovava o seu cartão de ponto e, saindo de lá, foi
direto para o tribunal, para enfrentar acusações de agressão a um policial.
Acontece que esse cartão foi extraviado pela polícia local, e as testemunhas –
falsas – estavam fazendo declarações forjadas, sob ameaça dos mesmos policiais
que queriam incriminar o Sr. Waters e manter a aparência de uma polícia
competente, que jamais deixou de desvendar um crime naquela cidadezinha.
Na cadeia, Kenny tentou suicidar-se,
mas não conseguiu. Em troca de não mais tentar contra a própria vida, sua irmã,
Betty Anne, prometeu estudar Direito e tornar-se sua advogada, para provar que
ele era inocente. E, de fato, Anne voltou para a escola, concluiu o primeiro
grau (que, no Brasil, equivale ao Ensino Fundamental), fez o colegial, foi para uma faculdade de Direito e trabalhava num pub à
noite para sustentar os estudos.
Mas essa escolha de Betty custar-lhe-ia
muitas renúncias. Seu esposo, saturado pela dedicação quase exclusiva da mulher
aos estudos em prol de um novo julgamento para o seu irmão, decidiu
divorciar-se. Pouco tempo depois, os dois filhos também escolheram ir morar com
o pai. Nesse momento, Betty entrou numa depressão, chegando a abandonar a
faculdade por alguns dias. Contudo, foi auxiliada por uma amiga de turma, Abra
Rice, recobrou o ânimo e retomou sua luta pela diplomação que poderia mudar a
história da vida de seu único irmão.
Quando Kenny Waters foi julgado em
1983, ainda não havia teste de DNA. Mas durante a faculdade de Direito, Betty Anny
aprendeu novas descobertas científicas – inclusive esta – que poderiam ser
usadas como provas para inocentar acusados, como no caso do seu irmão. Então,
Anny buscou a ajuda do Innocence Project, uma ONG americana dedicada a denunciar erros
judiciários que incriminaram inocentes, e que era coordenada por Barry Scheck, um
advogado que batalhava ferrenhamente contra a pena de morte.
Depois de formada e somente mediante
muita insistência junto ao tribunal que julgou Kenny, a então advogada Betty
Anny Waters, finalmente conseguiu encontrar e acessar as provas de que
necessitava para solicitar o exame de DNA, o qual comprovou a inocência do seu
irmão. Contudo, baseada nas provas que todos pensavam ser verdadeiras, a juíza
responsável pelo caso entendeu que ainda havia provas suficientes para colocar
Kenny na cena do crime, o que lhe manteria com a condenação por cumplicidade
naquele assassinato.
Começa uma nova batalha para
conseguir a confissão escrita das testemunhas, declarando a verdade sobre os
fatos, e assim ficou provado tanto que Kenny jamais havia estado na cena do
crime, quanto que houve alteração das provas por parte da polícia local, e
ainda que esta havia ameaçado as duas ex-mulheres do acusado, de forma a forçá-las a
mentir diante do júri. Por fim, depois que seu irmão foi, finalmente liberto,
Betty moveu uma ação contra o Estado, o que rendeu a Kenny a indenização de U$
3,4 milhões, por todos os anos que ele ficou preso injustamente. Foi uma luta
de 18 anos, mas Betty chegou aonde o seu coração havia determinado.
Essa história real, cujo final ainda
não acontece aqui, mexe com nossas concepções acerca de altruísmo. Vemos Jesus,
o maior exemplo de amor altruísta, e nos encantamos com Ele, cantamos louvores
em que declaramos nosso desejo de sermos como Ele, de fazermos o que Ele faria,
de pensarmos e dizermos o que Ele pensa e diria. Mas nossas atitudes não
condizem muito com essas declarações, e nós nem nos damos conta de quanto isso
é sério, porque nos refugiamos no argumento que Jesus é Deus e, nós, não.
Contudo, a história de Betty Anne
Waters nos conta de alguém que fez algo muito parecido com o que Jesus fez por
nós, mas de alguém bem próximo de nós, tão próximo que ainda está vivo até hoje.
Alguém de carne e osso, com uma família, com um emprego num pub, com uma
depressão a vencer. Alguém cheio de paixões, tal como eu e você, tal como o grande, ousado e dedicado profeta Elias, que "era tão inteiramente humano como nós..." [1]
Não estamos falando de alguém que
tenha agido impulsivamente, mas de alguém que, mesmo tendo medido todas as consequências,
entendeu que tal sacrifício valeria à pena para reaver uma vida ceifada pela
maldade que habitava em algumas pessoas usando um distintivo. E, simplesmente,
partiu em direção ao alvo.
A Bíblia mostra que Jesus também
mediu as consequências da Sua entrega. No horto das oliveiras, apenas em pensar
sobre todo sofrimento a que seria exposto dentro das próximas horas, o Senhor transpirava
sangue[2].
Contudo, Jesus prosseguiu em Sua escolha de fazer o que era necessário para nos
salvar, ainda que aquilo não parecesse ser certo.
Essa graça repetiu-se sobre a vida
de Kenny através da vida de sua irmã Betty Anne. Aquela mulher heroína poderia
ter olhado para as dificuldades possíveis e para as que, de fato, se levantaram
ao seu redor, tornando as circunstâncias ainda mais difíceis para ela. Penso em
quanta tristeza e solidão Betty sentiu quando teve de escolher entre a
impaciência do seu esposo e a liberdade do seu irmão, quando viu seus filhos
desocupando a casa e indo morar com o pai, simplesmente por não compreenderem
aquela situação.
Porém, Betty foi a única pessoa que
sustentou a esperança de Kenny naquela prisão, durante todos esses anos. Esse altruísmo
que dirigiu determinante a vida de Betty por quase duas décadas é apenas uma
amostra do que Cristo foi capaz de fazer por nós. Seu amor superou qualquer
outra demonstração de sentimento vinda de qualquer outra parte acerca de nós. Sua
graça foi capaz de realizar a obra mais extravagante que alguém jamais pensou
em fazer em nosso favor. E em nenhum momento Jesus pensou em renunciar essa
missão, bastando olhar para nós para novamente concluir que somente Ele poderia
mesmo trazer de volta nossa esperança e a possibilidade de um futuro melhor.
O fato triste depois de toda a luta
de Betty por seu irmão não foi apresentado no filme A condenação (Conviction, original)[3],
que narrou esse drama verídico. A produção de Andrew Sugerman, Andrew S. Karsch e Tony Goldwyn (2010), termina com Kenny e Betty sentados à beira de um
lago, observando a beleza da vida, na sua primeira manhã do resto de suas vidas.
Mas, na realidade, uma nova tragédia veio marcar essa família mais uma vez e para sempre. É que,
somente após 6 meses de liberdade, Kenny (o condenado injustamente) sofreu uma queda ao pular uma cerca, o que
o deixou 13 dias em coma e, depois, o levou a óbito.[4]
Contudo, sua irmã afirmava que Kenny
aproveitou intensamente cada minuto da sua liberdade. E aqui é onde essa
história termina, pelo menos para Kenny que, embora tenha morrido, partiu
deixando a certeza que ele morreu livre e inocente, e o mundo inteiro soube
disso.
Sem muito esforço vemos a grandeza
da obra redentora que Cristo fez por nós, representada também pela morte de
Kenny. Pessoas cujas vidas são guardadas por Ele, foram libertas por Seu
sacrifício e podem partir desta vida – seja pela morte, seja pelo arrebatamento
– deixando a certeza da sua libertação e absolvição, da sua nova vida livre das
condenações do pecado por causa da inocência que nos foi dada por Jesus.
Talvez, muitos de nós olhem para
seus futuros despretensiosa, serena e agradecidamente, como Kenny olhava para a
vida diante daquele lago. Talvez, outros já conseguiram ver o Céu além das
circunstâncias conhecidas e daquelas ainda estranhas pra nós. Seja como for,
importa estarmos prontos para reencontrarmos nosso Salvador. Importa guardarmos
nossa esperança e devoção Naquele Homem que, por amor, fez o improvável e consumou
o impossível para nos tornar eternamente livres.
Pessoas que foram verdadeiramente
livres em Cristo, não vivem da mesma maneira, mas desfrutam cada segundo da sua
liberdade com intensidade. E quando forem chamadas por Ele, partirão livres, e
o mundo ao seu redor estará consciente de que a salvação habitava as suas
almas.
[3] Ver chamada do filme A Condenação (Exibido no Brasil em
2011). CONVICTION (Original). Produção de Tony Goldwin. EUA: Vinny Filmes, 2010.
2 comentários:
Muitas vezes nos vemos em situação de ajudar o próximo, pelo simples motivo de ajudar, sem recompensas, mas não o fazermos. Esta história mostra bem esse desprender-se de si mesmo. 18 anos estudando e gastando a sua vida num objetivo maior, livrar seu irmão inocente. Um fonte de inspiração para nós. Deus abençoe.
Verdade, Mateus.
É sempre inspirador e motivador termos conhecimento de uma história verídica de quem sabe renunciar-se a si mesmo para abençoar outra vida, seguindo o mais puro exemplo do Mestre Jesus.
Que Deus nos ajude a fazermos o mesmo.
Obrigada pela visita.
Paz do Senhor.
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