domingo, outubro 26, 2014

Memórias do Bolsa Família


Bolsa Família
João Cruzué


Os fatos aqui narrados parecem ficção. Só parecem. Eu fiquei surpreso com a situação que vou narrar. Até que ponto a pobreza extrema mantém as pessoas sem liberdade para ter uma vida digna... As formas da miséria podem ser diferentes, mas a essência ela é sempre a será a mesma. Eu sei que Jesus pode libertar da escravidão espiritual do pecado e da morte, mas a liberdade econômica vem do esforço de cada um, conquistando um diploma universitário.

Eis os fatos:

Uma criança chegou triste à escola. A professora perguntou: O que aconteceu com você?  está  muito triste hoje...

--Sabe professora, é que meus pais agora estão separados...

--Oh!

E a professora, na primeira reunião de pais, foi falar com a mãe do garoto.

-- Olha, mãe, seu filho mudou... ele anda muito triste na escola. Eu perguntei para ele, e me disse que vocês se separaram. Ele está recebendo a visita do pai?

-- Não! Professora... nós não estamos separados de verdade. É que meu marido arranjou um emprego e  nós ficamos com medo de perder os 80 reais do Bolsa Família (BM). Para que ninguém ficasse sabendo, nós nos separamos de faz de contas, mas não pudemos falar para nosso filho, senão alguém iria perguntar para ele...

De dia meu marido trabalha. De noite, em vez de dormir em casa, ele dorme na casa da mãe dele. Assim, tanto nosso filho como a vizinhança pensa que nós estamos separados e nós não perdemos a ajuda do Bolsa Família.  Eu também trabalhava em uma casa de família, passei a ser diarista para que nossa renda não ultrapasse o limite para receber a ajuda do governo...

Ponto. Isto é um fato da vida real.

Pensando no assunto, posso ver muito bem que 80 reais certos todo mês, não é um valor que pode ser desprezado.  São sete pacotes de arroz; ou arroz, óleo, açúcar, café e feijão de um mês inteiro para uma família de três pessoas.

As autoridades precisam melhorar a gestão da BM. Pelo menos, seria bom que o benefício não cessasse de imediato. Sei lá, um prazo de um ano deveria ser considerado para que as pessoas não deixassem que a lembrança da miséria levasse um começo de dignidade...




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2 comentários:

Mateus Emilio Mazzochi disse...

Paz do Senhor, infelizmente nenhum governo nestes últimos 12 anos realmente acabou com a miséria, nem ao menos tentou, até aqui o que se fez foi criar uma leva de dependentes dos benefícios assistencialistas, que de nada adiantam se não forem aplicados de forma a conduzir as pessoas que se usufruem deles para uma vida melhor e mais digna, na qual se consiga gerar renda com o próprio esforço. É uma lástima que se gerencie a miséria e não se lute para acabar com ela. Deus tenha misericórdia de nós.

Joao Cruzue disse...

Obrigado pelo comentário, Mateus. Grande abraço. A paz do Senhor.