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Jonas M. Olímpio
O texto abaixo faz parte de um trabalho que elaborei há algum tempo atrás para a equipe de discipulado da nossa Igreja.
Mt 6:12 - Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. O pecado é uma das barreiras que nos impedem de alcançar as bênçãos divinas (Mq 3:4).
Portanto, uma das condições impostas para o homem que quer obter
resposta dos céus é alcançar o perdão para as suas falhas. Só que para
isso existe uma condição ainda maior: saber perdoar. Pois somente serão
perdoados por Deus aqueles que perdoarem os seus ofensores (Mt 6:15).
Pedir perdão a Deus sem estar disposto a perdoar aquele que te ofende
ou te deve, ou não pedir perdão ao próximo quando você é o culpado, é
hipocrisia! Porém, aquele que pede perdão deve estar também disposto a
abandonar o pecado e ainda a perdoar aqueles que pecaram contra ele,
mesmo que esses não lhe tenham pedido perdão.
Isso me faz lembrar daquela famosa parábola[1] contada por Jesus sobre o credor[2] incompassivo[3] (Mt 18:23-34):
Um cidadão, que certamente deveria ser um empresário da época, devia 10
mil talentos a um rei. Provavelmente essa dívida, que segundo os
cálculos de alguns estudiosos, girava por volta de, no mínimo, 20
milhões de reais, já tinha algum tempo e ele nunca nem sequer se
preocupou em pelos menos dar satisfação aos contadores do palácio.
Porém, vossa majestade, num belo dia resolveu dar uma olhadinha no
“caderninho dos pendurados”, viu ali aquela dívida que não era nada
pequena e resolveu mandar seus mensageiros “lembrarem” o rapazinho
“esquecido”. E, como já era de se esperar, ele não tinha como pagar tudo
aquilo, então ao rei pareceu justo aplicar-lhe uma lei que obrigava o
devedor e a sua família a se tornarem escravos estando sob o domínio do
credor pelo tempo determinado para pagar a dívida - E quantas pessoas
nos dias de hoje não são “escravas” de instituições financeiras como
por exemplo: bancos, lojas, financiadoras e agiotas por não terem
prudência ao administrar sua renda? -. Era uma pena muito pesada, e
somente o que sobrava ao réu era implorar, apelando pelo perdão, e foi
isso o que ele fez até alcançar misericórdia do majestoso que não
suportando ouvir aquela choradeira toda, desistiu não só de
escravizá-los, mas também perdoou-lhe toda a dívida. E agora, todo
contente por poder respirar mais aliviado, o devedor perdoado segue de
volta para a sua casa quando derrepente encontra pelo caminho um pobre
homem que, provavelmente por suas dificuldades financeiras, não tinha
condições de lhe pagar uma modesta dívida de 100 dinheiros (100 denários[4] em algumas versões bíblicas: por volta de no máximo 5 mil reais hoje),
e imagina o que foi que ele fez depois de ter aprendido aquela
maravilhosa lição sobre perdão: começou a estrangulá-lo e mandou que o
prendessem até que pagasse a dívida. Porém, outras pessoas, vendo isso,
contaram tudo ao rei que mandou chamar de volta o sujeitinho ganancioso,
lhe passou um sermão sobre a sua falta de misericórdia, chamou os verdugos[5] e mandou que lhe trancassem na prisão até que ele pagasse toda a dívida.
Será que não estamos agindo hipocritamente como esse devedor? Será que
temos por Deus e pelo próximo o mesmo amor que esperamos receber deles?
Como seres humanos, de uma forma natural, temos a tendência de
sentirmos e lamentarmos mais apenas pelas nossas próprias dores do que
pelas dores dos outros, e até quando estamos errados temos sempre uma
auto-justificação prontinha para nos defendermos; porém, o mais difícil é
entender os erros alheios. O devedor dessa parábola tinha uma dívida
que não era nada pequena; mas, certamente, aos seus olhos, isso não
deveria ser tão grave assim, afinal de contas, ele deveria ter uma “boa
razão” que em seu subconsciente lhe desse motivos para pensar que não
estivesse tão errado assim a ponto de não ter ido se explicar com seu
credor antes que ele fosse lhe cobrar. Quantas vezes o ser humano não se
acomoda com os seus pecados diante de Deus contando com a sua infinita
misericórdia? Porém aí ele se esquece de uma coisa muito importante:
Deus é misericordioso, mas também é justo; e em sua justiça, por mais
que ame o pecador, Ele não tolera o pecado (Nm 14:18).
Então, quando se dá conta disso, ele se prostra diante do Senhor,
chora, lamenta, se humilha e demonstra arrependimento até alcançar o
perdão; mas será que isso significa que ele está disposto a abandonar o
pecado (Pr 28:13)? E é a mesma coisa
quando o seu erro é contra o próximo: ele chora, lamenta, se humilha e
demonstra arrependimento até alcançar o perdão; mas será que está mesmo
disposto a não errar mais (Mt 23:28)?
A
sinceridade de um servo de Deus é conhecida não quando ele precisa
pedir perdão, mas sim quando ele precisa perdoar alguém. O rei dessa
parábola, juntamente com as pessoas ao seu lado naquela ocasião,
certamente ficaram bastante comovidos diante da súplica daquele homem e
acreditaram na sinceridade de seu emocionante pedido de perdão; porém, a
sua verdadeira personalidade foi revelada depois: fora da presença do
rei. Mas o rei ficou sabendo e aplicou-lhe a pena com todo o rigor da
lei. Assim, da mesma forma, o nosso Rei Celestial que tudo sabe e tudo
vê, não permite ao pecador que não se arrepende verdadeiramente escapar
impune da justiça divina que é o tormento do fogo eterno, ou
simplesmente, o inferno. Pois é para lá que irão todos os rancorosos,
maldizentes, devassos[6], idólatras, adúlteros, efeminados[7], ladrões, avarentos[8],
alcoólatras, incrédulos, homicidas, feiticeiros, mentirosos e, entre
muitos outros também, os amantes do pecado, conforme diz a Palavra de
Deus (Mt 5:22[9] [10] [11]; Tg 3:6; 1ª Co 6:10; Ap 21:8; 22:15).
Já imaginou perder a sua salvação simplesmente por não perdoar alguém?
Isso parece ser exagero? Pois a Bíblia é bem clara quando diz que o
caminho e a porta da vida - da vida eterna - são estreitos e poucos são os que a encontrarão (Mt 7:13,14).
Diante de tudo isso, como fazer para agradar a Deus então? A resposta é
bem simples: devemos tratar o próximo da mesma maneira que gostaríamos
de ser tratados por ele (Mt 7:12).
A tendência natural do ser humano quando, por exemplo, se depara diante
da notícia de que alguém cometeu um crime ou um grave erro que venha a
resultar em algum tipo de prejuízo é condenar, desejar o mal e, se
possível, praticar “justiça” com as próprias mãos. Portanto, para essas
pessoas que sempre se deixam levar pelo sentimento de revolta, só tenho
uma pergunta a fazer: nenhum ser humano é perfeito, e se fosse você ou
alguém que você ama que tivesse cometido esse erro? Também não gostaria
de ser perdoado ou que perdoassem aquele que você não quer ver sofrer?
Isso é muito mais sério do que parece, porque só alcançarão o perdão
divino aqueles que, além de se arrependerem sinceramente de seus
pecados, também perdoarem verdadeiramente o seu próximo
independentemente da gravidade da ofensa que dele tenha recebido (Mt 18:21,22). Somente alguém que ora com um coração arrependido e disposto a perdoar pode alcançar seus objetivos diante de Deus.
Jonas M. Olímpio
O texto abaixo faz parte de um trabalho que elaborei há algum tempo atrás para a equipe de discipulado da nossa Igreja.
É fácil condenar os outros por suas falhas, o difícil é reconhecer os seus próprios erros. |
Ser perdoado e não saber perdoar é hipocrisia, e o castigo é inevitável |
A falta de capacidade para perdoar é uma doença que endurece o coração e o destrói |
Pedir perdão é fácil, o difícil é conseguir perdoar |
[1]Parábola: Originária do grego parabole, significa narrativa curta ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula.
Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir
sempre uma razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao
longo dos tempos vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por
vias simbólicas ou indiretas. Narração
figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto dos elementos
evoca outras realidades, tanto fantásticas, quando reais. Eram as
histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4:11-12,
eram utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as
entendessem plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos
antigos profetas.
[2]Credor: Pessoa a quem se deve dinheiro (Mt 18:23-34).
[3]Incompassivo: Quem não tem compaixão.
[4]Denário: (denarius, em latim, plural denarii). Uma pequena moeda de prata que era a de maior circulação no Império Romano. Correspondia
ao salário diário de um trabalhador. Mesmo após a sua extinção, o
denário continuou a servir de unidade de conta no Império Romano.
Posteriormente, diversos países adotaram o termo "denário" (ou uma
variação) para designar as suas moedas nacionais, como o denier francês e
o dinar, usado em países árabes. A própria palavra dinheiro, em
português (e dinero, em espanhol), vem do latim denarius.
[5]Verdugo: Carrasco, algoz ou verdugo são nomes dados ao funcionário encarregado do castigo ou da execução de uma sentença de pena de morte. No caso do enforcamento,
por exemplo, é o carrasco quem empurra o condenado para que ele morra
pendurado. A figura do carrasco encapuzado tomou ares míticos e
assustadores durante a Idade Média, onde as execuções aconteciam com frequência.
[6]Devasso: Depravado, indecente, pervertido, imoral, degenerado, corrompido, corrupto. Aquele que abusa da liberdade.
[7]Efeminado: Caracterizado por qualidades mais próprias a mulheres do que a homens. Que tem modos de mulher. Excessivamente delicado; mole. Homossexual.
[8]Avarento: Que tem avareza. Que não dá; parco. Que guarda ciosamente; ciumento, zeloso. Mesquinho, miserável. Estéril, sáfaro. Indivíduo sordidamente apegado ao dinheiro; sovina, harpagão.
[9]Encolerizar: Enfurecer, zangar, irritar.
[10]Raca: Palavra aramaica que quer dizer: "Você não presta!"
[11]Sinédrio: O
mais alto tribunal religioso dos judeus, do qual faziam parte os sumos
sacerdotes (o atual e os anteriores), chefes religiosos (anciãos) e
professores da Lei. Tinha 71 membros, incluindo o presidente (Jo 11:47).
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