domingo, setembro 12, 2010

Dá-me de beber

Amilton dos Santos Júnior

Blog do Amilton

Frase comum e cotidiana.

Sem me aprofundar muito na pesquisa à palavra de Deus, suponho que Jesus a tenha dito duas vezes. A primeira vez, citada em João 4, onde narra-se o encontro de Jesus com a mulher samaritana. Se possível, peço que você leia do versículo 5 ao 30 antes de continuar com esta meditação. A segunda vez foi quando estava agonizando na cruz.

Essa história é muito conhecida, sendo vastamente pregada em todas as igrejas e congregações mundo a fora. Espero poder trazer algum ponto de vista diferente, que toque sua vida.

Neste capítulo João narra a caminhada de Jesus saindo da Judéia indo para a Galiléia. Para fazer este percurso, ele teria suas opções: ou atravessaria o Jordão – como fazia a maioria dos Judeus pelo fato de não terem bom relacionamento som os samaritanos – ou teria que passar pela Samaria. Quando lemos esta passagem, a única lembrança que nos vem à cabeça é de que samaritanos não se dão bem com judeus. E só isso. Talvez seria necessário conhecer mais sobre os habitantes da Samaria.

Os samaritanos são um pequeno grupo religioso oriundos dos próprios judeus. Do mesmo modo que seus aparentados, baseiam-se no Pentateuco. Uma das únicas diferenças é que não consideram Jerusalém como uma cidade sagrada. Trazendo para hoje, poderiam ser considerados uma denominação evangélica qualquer, exemplificando, os judeus poderiam ser os irmãos Quadrangulares e os samaritanos, os Batistas, ou vice-versa. Essa rivalidade que tinham na época é vista hoje entre as milhares de denominações existentes no Brasil, não? Sempre há uma vertente afirmando que a igreja A ou B é melhor pois segue doutrinas, não é conivente com certas atitudes, etc e etc. Se você analisar, não é comum ver irmãos de uma denominação fazendo visitas a outras igrejas.


Muitos pastores, numa atitude de auto-defesa, já proclamam que o irmãozinho fica pulando de galho em galho. Ou não entendem o contexto da palavra de Deus ou simplesmente têm medo de perder mais membros. Na verdade a ordenança de Jesus a Pedro dizendo “apascenta as MINHAS ovelhas” e não as TUAS não é muito lembrada ultimamente. As ovelhas pertencem a Jesus e não aos pastores. Mas isso é um assunto para outra meditação. Só para que você se enquadre neste texto, pegue agora papel e caneta e comece a escrever os nomes dos irmãos de outras denominações que tens amizade. A dica é que não penses muito, pois poderá demorar um pouco. Tudo bem, voltemos ao texto então.

Muito ouve-se sobre avivamento e unidade da igreja. Mas como essa unidade será efetiva se não sabemos nem onde ficam as outras igrejas de nossa cidade? Não estou pregando que devemos ir a uma igreja diferente a cada domingo. NÃO! O que digo é que nossa atual unidade virtual não nos levará a nada.

Neste texto de João 4 Jesus prova que a convivência entre povos digamos, rivais, é possível. Rival é uma palavra forte hoje em dia. Então usaremos o termo “igrejas com ideologias distintas”. Judeus e samaritanos não era amigáveis entre si e sabemos que naquela região do globo, simples diferenças religiosas e étnicas já são o suficiente para discussões, brigas e até guerras.

Jesus sentou-se à beira do poço de Jacó. Imagino ele recordando a vida de Jacó como um filme à sua frente. Um homem que de enganador passou a ser chamado Israel. Um homem que lutou com o anjo em busca de uma bênção. Um homem que soube reconhecer seu erro e pedir perdão a seu irmão. Eu imagino Jesus elevando seus olhos aos céus e pensando: “... é Jacó ... passamos tanto tempo juntos aí em cima, e agora estou aqui, à beira do teu poço ...”

Então, na hora sexta, a samaritana apareceu pra tirar água. Pra quem não está familiarizado com o tempo na Bíblia, a hora sexta era por volta do meio-dia. Uma hora imprópria para retirar-se água pois era muito quente. Normalmente as mulheres iam ao poço no entardecer. Então por que a samaritana ia nessa hora? No decorrer de João 4 vemos que Jesus disse que ela já teve cinco maridos e que o atual nem dela era. Ou seja, era uma mulher envolvida com prostituição e uma vida leviana. Isso fazia com que tivesse vergonha de buscar água no horário em que as outras mulheres chegavam ao poço pois devia ser motivo de falatórios e discriminação.

Quem sabe você já está identificando alguém na sua igreja que evita ir a cultos pois todos sabem de seus erros e pecados e essa pessoa acaba sendo alvo de olhares cínicos? Digo cínicos pois a palavra fala que “todos pecaram”. Então qual o direito que eu tenho de ficar julgando meu irmão por algo que tenha cometido? Conheço igrejas assim, que mais parecem um Big Brother do que uma casa de oração, pois as tão esperadas assembléias de membros mais servem para colocar um irmão no “paredão” do que acompanhá-lo e ver um crescimento espiritual.

Jesus sabia da situação daquela mulher. E esse foi o meio que ele encontrou para iniciar um bate-papo que mudaria para sempre sua vida.

Na primeira parte da conversa Jesus viu na mulher a vontade de receber água viva. Ele chegou a ela e disse: Dá-me de beber. Não era comum na época homens dirigirem-se a mulheres que não fossem suas ou de seu convívio familiar, ainda mais quando os dois estavam a sós. Mas Jesus veio ao mundo para, além de nos salvar, quebrar todo e qualquer conceito humano que impedisse o fluir de seu amor. A primeira reação da mulher é comum a nós. Ela devolveu pra Jesus a responsabilidade da condução daquele papo. Ela argüiu-o dizendo que ele não poderia pedir nada a ela pelo simples fato de que ele era judeu e ela samaritana. Quantas vezes Deus nos dá uma ordem ou uma palavra direta e não obedecemos? Isso acontece a todos nós. Deus nos diz algo e ao invés de falarmos o tão famoso “eis-me aqui” acabamos retribuindo o chamado de Deus com outra pergunta ou querendo argumentar com Ele nossas idéias ou conceitos. Irmãos, isso nada mais faz do que atrasar o agir de Deus em nós. Se Ele nos chamou, vamos tomar o arado e ir em direção à terra, vamos trabalhar. Na Bíblia podemos citar vários homens que quiseram mostrar pra Deus que hipoteticamente Ele estava errado quanto ao melhor para eles. Jonas foi um deles. Deus mandou ir para Nínive e ele quis ir para Társis. O final dessa história todos sabemos. Podemos citar tantos outros que desobedeceram a Deus e quiseram agir por conta própria: Saul, Adão, Sara, Pedro, etc. A primeira dica é: Se Deus falou, FAÇA!

Na seqüência do diálogo, Jesus se apresentou a ela porém ainda não explicitamente a ponto dela entender que estava diante do Messias. Só que a reação da mulher já foi bem diferente. Ela respondeu novamente com uma pergunta, no entanto já expressando o desejo de conhecer mais a proposta de Jesus. Aqui seria o ponto ideal para partirmos em direção ao que Deus quer que façamos. Muitos de nós temos promessas do Senhor, quer seja de emprego, de ministério ou outra qualquer.


Quando Deus chamou a Moisés, uma das primeiras coisas que Moisés argumentou foi que não sabia falar, mas no seu coração já tinha aceitado a missão. Você que está lendo esta meditação já pode ter passado por algo parecido. Deus te prometendo um ministério de louvor, por exemplo, e você argumentando que não sabe tocar, nem cantar direito, mas aceita trilhar esse caminho sabendo que quem te capacita é o Senhor. A samaritana ainda questionou Jesus pois o padrão que ela tinha de águas era unicamente do poço. E este poço realmente tinha uma capacidade muito grande de fornecimento de água. Desde a época de Jacó, milhares de pessoas e animais se beneficiaram daquela água. Pesquisei na internet e vi que o poço tinha aproximadamente 2,3 metros de abertura e sua profundidade não fora calculada. Mas sabe-se que é profundo pois além de alimentar-se de águas da superfície, também alimenta-se de um manancial subterrâneo. A água é fria e refrescante, porém não insaciável.

Após essa seqüência de perguntas, Jesus fez o apelo. Não diretamente como fazemos nas igrejas, mas igualmente aos dias de hoje, a mulher fez a decisão e disse sim para Cristo. Pronto, estava feito. No seu interior ela já estava entregue ao Senhor. Mas não parou por aí. Agora sim, vamos bater novamente num assunto tão já falado nas igrejas e também nos meus textos. Ao lermos sobre os milagres que Jesus fez, nos casos de pura manifestação do poder de Deus a frase dita era: “Vai, a tua fé te salvou...”. Nos casos de pecados, Jesus falava: “Teus pecados estão perdoados ...” e na seqüência a ordem para a pessoa fazer o que não conseguia antes, quer seja andar, enxergar, etc. E com a mulher samaritana não foi diferente. Jesus ofereceu gratuitamente a salvação, no entanto, havia algo a ser mudado. Um dia, todos nós aceitamos a Jesus e a esse momento demos o nome de conversão. No Dicionário Aurélio o significado do verbo converter é “mudar, transformar”. Então por que não mudamos ou somos transformados pelo poder de Deus? Já notaram que em vários cultos vemos pastores fazendo apelos para pessoas que desejam mudar suas vidas e serem transformadas por Deus e quando olhamos sempre tem um ou outro que já aceitara esse tipo de apelo antes? Na verdade, a palavra é pregada, cai em boa terra, tem uma boa chance de germinar mas o que falta é que venhamos a cuidar dessa semente, protegê-la, regá-la e fazer com que nasça uma planta saudável e forte. Só que muitos crentes não tem o cuidado devido com sua semente. Há igrejas e pastores que pegam um irmãozinho recém convertido, e ao invés de colocá-lo num vaso pequeno, bem adubado e deixá-lo numa estufa botânica para que a planta venha a desenvolver-se sem ação de fatores climáticos externos (que poderão fatalmente matá-la), não obedecem a essa ordem e acabam deixando-o no meio de plantas já desenvolvidas. Ou regam excessivamente a planta, acabando por afogá-la. Isso é normal nas igrejas. Vemos pessoas recém convertidas com cargos de responsabilidade, liderando outras pessoas, cantando no louvor e até pregando. Querido pastor, se você está lendo esse texto saiba que esse tipo de atitude é muito perigosa pois uma planta dessas, exposta a situações que exigem um pouco mais de maturidade, dificilmente poderá ser recuperada, ocasionando desde uma ruptura até sua completa sequidão.

A Bíblia não entra em detalhes, mas eu creio que a maioria das pessoas que tiveram um contato com Jesus, depois precisaram de algum acompanhamento. Seja dos discípulos ou de outros irmãos um pouco mais envolvidos com a obra de Deus. Isso é fato e não é muito observado hoje em dia. A sua igreja tem discipulado? Como fazem com pessoas que aceitam a Jesus no culto de domingo? Elas simplesmente vão pra casa e retornam no próximo domingo ou são “minadas” de palavra durante a semana? Estamos acompanhando nossos mais novos integrantes do corpo?

Jesus, já sabendo da atual situação da samaritana, lhe pediu que trouxesse seu marido para também ouvir da palavra e compartilhar momentos com o mestre. Ela, sem duvidar, afirmou que não tinha marido, mostrando a Jesus que realmente estava decidida a levar uma vida sem mentiras, de acordo com a palavra de Deus. Então Jesus confirmou o fato e disse que ela já tivera outros cinco maridos e o atual nem era seu.

Que bomba para muitos hein? Hoje vemos Deus usando pastores e irmãos que pregam uma vida reta, rompendo com o pecado e muitos irmãos têm a coragem de dizer que a pregação não fora para eles, que não precisavam ouvir isso pois suas vidas estão em dia e muitos ainda olham para quem está dirigindo a palavra e no seu mais cruel farisaísmo pensam, baseados na palavra, o versículo que diz que “quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Infelizmente é o panorama atual, mas tudo bem. Cada pessoa tem o direito de pensar o que quiser e seguir a Bíblia ou não. Só não terá o direito de exigir nada de Deus no dia do julgamento final. Aí as cortinas cairão e os verdadeiros crentes serão mostrados.

Você já parou para pensar que a samaritana era da mesma linhagem dos judeus? Quando ela se referiu ao poço, ela disse: “nosso pai, Jacó”. Isso quer dizer que no contexto atual, ela já era uma crente ou, aliviando um pouco, uma simpatizante do evangelho. Podemos afirmar que ela era integrante de qualquer igreja evangélica de hoje. Você pode achar que estou exagerando e isso é um direito seu. Mas hoje nas igrejas vemos toda variedade possível de pecados. No meu texto “O pecado não existe” eu falo sobre isso. Há inclusive alguns pecados ou atitudes que nem são mais vistos como errôneos, pois vários irmãos “importantes”, que dão bons dízimos ou exercem algum cargo na igreja vêm cometendo constantemente. Leia o texto citado.

O final dessa história todos sabemos. Essa mulher tornou-se a primeira missionária daquela época. Ela simplesmente foi à cidade, descreveu quem era Jesus e o que ele fizera e trouxe consigo muitas pessoas para ouvi-lo.

Você notou o intervalo de tempo entre sua conversão e seu trabalho como evangelista? O que você está esperando hoje para começar a trabalhar definitivamente para o Senhor? Está esperando o anjo Gabriel descer e te encher de elogios? Ou está esperando pois daqui há seis meses virá na tua congregação um pastor que tem dons de profecia e sem dúvida neste culto receberás uma resposta dos céus se é ou não necessário que faças algo para Deus? Irmãos, já escrevi e já disse também em pregações que Deus não tem tempo para perder. Ele investiu muito em você. Investiu a criação, investiu irmãos que oraram pela tua conversão, investiu numa construção para que possas ter um lugar onde adorá-lo e acima de tudo investiu o sangue puro do seu único filho! O que falta então para que você desperte dessa cadeira ou banco de igreja e comece sua obra? O lugar que você ocupa aí no banco é muito valioso querido. Não menospreze a obra que Deus tem pra ti pois, do contrário, ele colocará outro em teu lugar e você olhará e verá aquele irmão pregando, fazendo maravilhas e no seu interior lembrará do passado e pensará: “era para eu estar ali fazendo tudo isso”. Acho que não há pensamento pior para se ter enquanto ainda estamos aqui na terra.

Agora, o mais incrível dessa história toda e talvez o menos notado é o fato de que os apóstolos, num número de doze pessoas, também vieram da cidade ao encontro de Jesus. A pergunta é: quantas pessoas eles trouxeram até Jesus? Eles sabiam que Jesus era o Messias, sabiam do seu poder de curar e libertar, sabiam do seu domínio da palavra, sabiam de tudo o que ele era capaz. No entanto, ao voltarem com a comida, não trouxeram nem o próprio vendedor para ouvir algo de Deus. Impressionante! Talvez seja a resposta para você, que está há anos esquentando um banco de igreja e nunca trouxe ninguém até os pés de Jesus, e ainda fica brabo quando um novo convertido faz a obra e enche a igreja de pessoas que precisam de uma palavra dos céus e ainda ocupa um lugar de destaque no púlpito da sua congregação. Os apóstolos andavam com Jesus já há algum tempo. A mulher samaritana tinha pouco mais de uma hora de conversão. Acho que ninguém tinha já trazido a Jesus um número tão grande de pessoas de uma só vez.

A Bíblia nos relata que muitas pessoas aceitaram a Cristo resultando que ele ficou ali por dois dias para poder compartilhar e ministrar a todas elas.

Que mulher de Deus, não? Não sei se você reparou na mudança dela. Eu imagino a vontade insaciável que ela tinha de levar seus vizinhos até Jesus. Lembre-se que no começo do texto eu dissera que essa mulher era mal vista e mal falada por seu estilo de vida. Só que com Jesus no coração, não há vergonha ou medo que nos possa deter. Erguemos a cabeça e vamos à batalha. Davi, num primeiro momento, pode até ter se impressionado com a estatura de Golias. Mas o Espírito Santo não deixou barato a afronta daquele filisteu e encheu Davi de coragem e ousadia no Senhor , levando-o à vitória.

Para encerrar, lembrando do título desta meditação, no início do texto falei sobre as duas vezes nas quais Jesus pronunciou a frase “dá-me de beber”. Na primeira, lemos sobre a conversão da mulher samaritana. Na segunda vez, foi na cruz do calvário, no momento em que Jesus sentiu sede e pediu por água. Ao invés de ganhar água, lhe deram vinagre misturado com fel. Se você ouvisse hoje, da boca de Jesus, um pedido por água, qual o tipo de água que emanaria do seu interior? A sua oferta tem achado graça aos olhos de Deus como no caso de Abel ou tem sido rejeitada como foi a de Caim?

Como tem sido nossa oferta ao Senhor?

Durante o diálogo, Jesus pronunciou um dos versículos mais lembrados até os dias de hoje, que diz: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.”

Pense a respeito.

Deus abençoe a todos.



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